Havia num fundo de mar uma colônia de ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção : de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. AS ostras felizes se riam dela e diziam : "Ela não sai da sua depressão...". Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade : era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa. A ostra que faz uma pérola: não se entrega ao pessimismo porque foi capaz de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta.
07 novembro 2010
Ostra feliz não faz pérola
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1 comentários:
Ostra feliz não faz pérola! Uma bonita verdade do Rubem Alves né amiga! Não é fácil ter esse grão de areia aí, mas é bonito perceber que, assim como as ostras, somos capaz de transformar o que é ruim em algo de belo. Que Deus te dê sempre essa capacidade de criar a partir do que não é tão bom.
Beijo grande!
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